O sério gargalo da energia

Com o título “Falta de investimento em Manutenção afetou redes”, de ChicoSantos e Cláudia Schüffner (29/03/2010), reportagem do Valor Econômico revela que o sistema elétrico do país carece de confiabilidade. Em função da importância do tema, reproduzimos (abaixo) na íntegra a matéria.




Os números apresentados pelas empresas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) corroboram a sensação de quebra da Qualidade dos serviços nos últimos meses. Nos casos da Light e da Ampla, as distribuidoras que respondem pela quase totalidade do atendimento no Rio, o indicador de duração média das interrupções do fornecimento por unidade consumidora (DEC) saltou, respectivamente, de 10 horas e 12,99 horas nos 12 meses encerrados em fevereiro do ano passado para 15 horas e 21,01 horas no período de um ano fechado em janeiro de 2010.
A frequência média de interrupções (FEC) da Light no verão deste ano ficou estável 7 vezes nos 12 meses encerrados em janeiro, na comparação com o ano de 2008. Na Ampla, o indicador passou de 10,1 para 12,71 vezes. A Light foi multada pela Aneel em R$ 3,9 milhões por descumprimento de indicadores de Qualidade em 2008. Em fevereiro deste ano a Aneel voltou a multar a Light, desta vez em R$ 9,5 milhões, por causa dos apagões de novembro e dezembro do ano passado. Já a Ampla vai indenizar 500 mil clientes em abril, no valor total de R$ 3 milhões, por interrupções no fornecimento.
Tanto no caso da Light como no da Ampla, o ponto de mudança da curva, especialmente da duração das interrupções, com súbita elevação, foi em novembro, quando o Sudeste sofreu um blecaute, que passou de quatro horas em alguns locais, por razões alheias às distribuidoras locais (problemas nas linhas de transmissão de Furnas).
Na apresentação feita à Aneel para justificar problemas de Qualidade do serviço, a Ampla mostrou um gráfico alternativo, segundo o qual os indicadores DEC e FEC em janeiro deste ano teriam fechado em 17,36 e 10,86, se não fosse a influência do blecaute de novembro.
O significado de todos esses números, para Almeida, da UFRJ, é que "as empresas estão entrando em um momento no qual precisam investir mais". O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, avalia que embora as empresas, "de um modo geral" venham demonstrando "que estão cumprindo o dever contratual de investir", elas precisam investir mais.
Para Almeida, as distribuidoras precisam rever o direcionamento dos seus investimentos. Na sua avaliação, não são apenas fatores climáticos que estão elevando o consumo de energia elétrica, há também o crescimento do consumo geral da economia, traduzido em mais aparelhos de ar-condicionado, refrigeradores e outros eletrodomésticos no plano residencial, gerando maior consumo de energia industrial e comercial.
Com, a expectativa de crescimento econômico na casa de 5% este ano, Almeida afirma que o consumo de energia deverá ser bem maior no próximo verão, o que exige que as empresas comecem a se preparar desde já. Segundo ele, as distribuidoras investindo mais em expansão do que em Manutenção e precisam agora rever essas aplicações de recursos.
Para Adriano Pires, especialista em energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), há também culpa da atual política do governo para o setor na redução dos investimentos e piora dos indicadores de Qualidade da distribuição. Para ele, a busca da chamada "modicidade tarifária" (preços baixos), pilar do atual modelo do setor elétrico, "não dá às empresas a garantia de que os investimentos realizados serão considerados na hora da revisão tarifária".
Mesmo considerando correto que o governo zele pelos interesses do consumidor, buscando a menor tarifa possível, Pires avalia que ao querer "ganhar politicamente em cima das distribuidoras", o governo acaba fazendo com que o consumidor pague o custo da má Qualidade dos serviços.
Recém empossado na presidência da Light, o ex-diretor-geral da Aneel Jerson Kelman chegou com um discurso de que é preciso melhorar e que a empresa está pronta a aumentar seus investimentos. "A companhia está fortalecida do ponto de vista financeiro e operacional, o que lhe permitirá ampliar as ações de melhoria contínua da Qualidade dos serviços", afirmou.
Lobão disse ter ouvido de Kelman o compromisso de aumentar os investimentos da Light. Os números da distribuidora, que abastece mais de 70% do mercado fluminense, mostram que ela elevou seus investimentos, passando de R$ 352 milhões em 2007 (R$ 276 milhões em distribuição) para R$ 547 milhões em 2008 (R$ 456 milhões em distribuição) e chegando a R$ 564 milhões em 2009 (R$ 450 milhões em distribuição).
Ao justificar o aumento dos apagões, Kelman destacou o forte aumento do consumo na sua área de atuação - 25% em novembro de 2009, 13% em dezembro e 11% em janeiro, todos comparados com igual período do ano anterior. Kelman citou também a pressão das ligações clandestinas, afirmando que elas representam 20% do total da energia que circula na rede da Light.
André Moragas, diretor de relações institucionais da Ampla, disse que os investimentos da empresa são compatíveis e vêm mostrando "forte evolução", com reflexos positivos na Qualidade. Segundo ele, os indicadores foram particularmente afetados este ano pelo aumento dramático da incidência de raios e de chuvas nas áreas de concessão da empresa. "Com certeza, temos responsabilidade, não estávamos preparados para um verão tão rigoroso." Para 2010, a Ampla promete elevar seus investimentos para R$ 400 milhões (ante R$ 340 milhões em 2009), com foco especial na Qualidade do serviço, que receberá metade dos investimentos totais.


Fonte: Revista Manutenção y Qualidade online - ano02 - nº062 - 7/04/2010

0 Comments:

Post a Comment




 

Layout por GeckoandFly | Download por Bola Oito e Anderssauro.