Acidentes como o da Usina Vale do Rosário, em 2004, poderão deixar de existir caso uma tecnologia pesquisada pela USP possa ser empregada futuramente para detectar defeitos “não visíveis a olho nu” em peças feitas de metal.

Em abril de 2005, a revista Mecatrônica Atual apurou a causas de um acidente ocorrido em dezembro de 2004, na Usina Vale do Rosário, situada na cidade de Morro Agudo (380 km ao norte de São Paulo). De acordo com a Polícia Técnica, uma trinca por dentro de uma solda foi a responsável pelo desprendimento da tampa inferior de um cozedor de caldo de cana. Saldo trágico do acidente: 12 mortos e 19 feridos.

Acidentes como esse poderão deixar de existir caso uma tecnologia pesquisada pela USP possa ser empregada futuramente para detectar defeitos “não visíveis a olho nu” em peças feitas de metal. “Estamos trabalhando numa tecnologia que possui várias aplicações industriais”, comenta o professor Linilson Rodrigues Padovese, coordenador do projeto que deu origem ao “Barktech”, equipamento eletrônico baseado nos estudos de Heinrich Bakhausen, físico alemão que descobriu em 1919 o poder de uma corrente elétrica aplicada a um corpo ferromagnético.

Para entender como essa tecnologia poderá prevenir acidentes, saiba como Barkhausen teve uma importante contribuição nessa história: Esse físico alemão estudou as micropartículas que formam os materiais à base de ferro magnetizante. Percebeu que essas micropartículas estão dispostas de tal modo que formam vários campos magnetizantes “apontando” em várias direções numa mesma chapa de aço (por exemplo). Induzidos por um campo magnético, os campos dessas micropartículas sofrem um “rearranjo” e podem “apontar” para um mesmo sentido (esta é a base de construção dos eletroímãs).

A partir da descoberta de Barkausen, os pesquisadores da USP criaram um sistema que capta os sinais das micropartículas ferromagnéticas. “O estudo desses sinais pode indicar, por exemplo, que há uma certa região de uma peça de metal suscetível a problemas”, explica o coordenador do projeto. Os sinais são remetidos para um módulo eletrônico conectado à saída serial de um computador, este por sua vez, é dotado de um software que transforma esses sinais em gráficos para análise.

Mas a detecção de fadiga de materiais é apenas uma das várias aplicações possíveis do Barktech. De posse de dados pré-gravados no PC, o Barktech também pode realizar monitoramento dos processos de soldagem, controle de qualidade em peças usinadas, tensão mecânica, queima de retífica, estampagem, etc.

Segundo Padovese, o projeto, que conta com a participação de pesquisadores internacionais, encontra-se na fase de análise dos sinais emitidos pelas microestruturas ferromagnéticas. “Sabemos que há uma emissão de sinais, mas é preciso interpretá-a”. O trabalho agora é tentar gerar um algoritmo de controle que acuse diferenças entre o sinal pré-gravado e o capturado on-line.

O Barktech é um equipamento da classe dos “ensaios não destrutivos”, ou seja nenhuma peça é danificada durante a análise. Além disso, ele faz a inspeção com as peças instaladas no local, não sendo necessário retirá-las. Padovese afirma que a tecnologia é complementar a outras existentes no mercado.

Fonte: Sérgio Vieira. Revista Mecatrônica Atual. Versão Online

*Originalmente publicado na revista Mecatrônica Atual - Ano 4 - Edição 31 - Dez/Jan/06/07

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